terça-feira, 18 de setembro de 2012

Apresentação


Convidamos os pós-graduandos para o debate!

Neste ano, o Seminário de Teses e Dissertações organizado pela Associação de Pós-Graduandos da Faculdade de Educação da UNICAMP resolveu colocar as veias dos pós-graduandos expostas: Qual é a realidade da formação dos pós-graduandos na educação hoje no Brasil?

Diante das atuais políticas de pós-graduação no Brasil, tem-se enfrentado também na FE-UNICAMP, assim como em outras faculdades de educação nacionais, um processo de padronização e adequação dos programas, impulsionados pelos órgãos de fomento, principalmente CAPES e CNPQ. Dentro das metas contidas no Plano Nacional de Pós-Graduação para 2020, esses órgãos de fomento, pressionados pelas agências de financiamento internacionais preveem que os programas de pós-graduação terão a substituição do mestrado acadêmico pelo mestrado profissional e o doutorado como modalidade de formação acadêmica; a “flexibilização” dos programas de pós, fazendo-os diversificarem linhas de pesquisa, grades curriculares, estruturas de créditos tendo apenas os “programas de excelência” tempo para suas readequações; avaliações pautadas na quantidade de publicações e criação de padrões de qualidade para publicações nacionais pautadas nas referências internacionais e internacionalização da formação de pesquisadores – incentivo à dupla diplomação e realização de estágios no exterior, assim como a vinda de pesquisadores estrangeiros para o Brasil. E num jogo mercadológico, condicionam o financiamento dos programas e pesquisadores ao desempenho na produção de artigos e livros, atribuindo notas de acordo com exigências quantitativas.

Com o advento das novas modalidades de formação, afirma-se que o mestrado acadêmico não terá mais espaço nas instituições públicas. Mas a pressão pela diminuição do tempo de conclusão, a oferta cada vez mais escassa de disciplinas gerais para uma formação básica, a insuficiência no número de bolsas e vagas nos programas já tem a algum tempo boicotado o mestrado, tornando-o uma missão quase impossível para os pós-graduandos.  Exige-se ainda que se produzam dissertações que respondam às “demandas” das áreas ou linhas de pesquisa determinadas, sem dar condições de apropriação dos conhecimentos teóricos e práticos para o desenvolvimento de bons trabalhos. Mesmo assim, pergunta-se: a melhor opção é mesmo substituir o mestrado acadêmico pelo mestrado profissional? Será que esses problemas já existentes não se transferirão também para esse tipo de formação?

Diante disso, pensando-se na função social do pós graduando como responsável por contribuir com a produção e reprodução de conhecimento, quais são as possibilidades para aqueles que se formam para atuar na educação?

O que esperar das universidades prestadoras de serviço que continuam a oferecer pós-graduação como sinônimo de privilégio?

Essas serão algumas das questões que se pretende debater nesse VIII Seminário, com o intuito de respondê-las a ponto de balizar a construção de novas saídas para os problemas da formação do pós-graduando em educação no Brasil. 






Leia o texto integral:



A Formação na Pós-graduação em Educação:
Contestação Necessária.

Neste ano, o Seminário de Teses e Dissertações organizado pela Associação de Pós-Graduandos da Faculdade de Educação da UNICAMP resolveu colocar as veias dos pós-graduandos expostas: Qual é a realidade da formação dos pós-graduandos na educação hoje no Brasil?

Desde que a Pós-graduação em Educação foi intitucionalizada no Brasil nos anos 1970, sua função na formação dos profissionais da educação tem se ampliado consideravelmente, passando a ser apenas na teoria a resolução de todos os problemas da educação. Inicialmente, os poucos programas Stricto Sensu preocupavam-se mais em formar os futuros professores e pesquisadores do ensino superior que contribuiriam para a construção da educação como campo científico. Tinha-se mais tempo para a realização das teses e dissertações, pois elas se construíam junto com as áreas de conhecimento, novidades na pesquisa brasileira. Aos poucos, o capitalismo exigiu a formação de gestores, técnicos, assessores, especialistas em educação para assumir as mais diversas funções nas instituições e organizações que se responsabilizariam pela transformação da educação brasileira e os programas de pós em educação foram abraçando essa responsabilidade.
Com as transformações no mundo do trabalho e a reestruturação produtiva atrelada às políticas neoliberais dos anos 1990, a pós-graduação foi deixando de ser opção de formação e aprimoramento para tornar-se via de ascensão profissional. Multiplicaram-se os programas de pós-graduação Lato Sensu em instituições públicas e privadas, estimulou-se a chamada “formação continuada” e atrelou-se o sucesso profissional e promoção salarial à titulação. Seja nas redes municipais e estaduais, seja dentro das universidades, deu-se uma corrida pela diplomação em todas as profissões, não ficando o campo da educação de fora. Assim como se propagavam as vantagens dos títulos de pós-graduação para a carreira do professor e do profissional da educação, aumentavam também as ofertas cada vez mais específicas, diferenciadas e atreladas aos interesses mercadológicos dos cursos de especialização. Distanciou-se cada vez mais o professor da pesquisa, o trabalhador foi sendo cada vez mais impelido a separar teoria e prática, reservando a poucos o acesso ao mestrado e doutorado enquanto a maioria desdobrava-se para pagar cursos de extensão ou especializações aligeiradas.
Hoje, em pleno século XXI, as funções sociais dos professores e pesquisadores se ampliaram, sem que fossem dadas melhores condições de renda e trabalho frente aquelas oferecidas antes. A cada dia cobra-se mais qualificação e rendimento do professor e/ou pesquisador, sem garantir a ele tempo e condições materiais para sua formação.  Seguindo a lógica produtiva do capital, aos profissionais da educação não cabe mais simplesmente formar os brasileiros: eles precisam provar que são eficientes na produção de pesquisas e seguir padrões internacionais de produtividade.
Diante das atuais políticas de pós-graduação no Brasil, tem-se enfrentado também na FE-UNICAMP, assim como em outras faculdades de educação nacionais, um processo de padronização e adequação dos programas, impulsionados pelos órgãos de fomento, principalmente CAPES e CNPQ. Dentro das metas contidas no Plano Nacional de Pós-Graduação para 2020, esses órgãos de fomento, pressionados pelas agências de financiamento internacionais preveem que os programas de pós-graduação terão a substituição do mestrado acadêmico pelo mestrado profissional e o doutorado como modalidade de formação acadêmica; a “flexibilização” dos programas de pós, fazendo-os diversificarem linhas de pesquisa, grades curriculares, estruturas de créditos tendo apenas os “programas de excelência” tempo para suas readequações; avaliações pautadas na quantidade de publicações e criação de padrões de qualidade para publicações nacionais pautadas nas referências internacionais e internacionalização da formação de pesquisadores – incentivo à dupla diplomação e realização de estágios no exterior, assim como a vinda de pesquisadores estrangeiros para o Brasil. E num jogo mercadológico, condicionam o financiamento dos programas e pesquisadores ao desempenho na produção de artigos e livros, atribuindo notas de acordo com exigências quantitativas.
Junto a isso, associa-se a necessidade de promover inovações no campo da educação, para o qual o mestrado profissional é colocado como proposta para a formação de professores em exercício. Com o argumento de preocupação da CAPES com a “melhoria da qualidade da educação básica”, além dessa proposta formativa, a agência pretende imprimir uma lógica avaliativa à educação básica igual aquela que está sendo imposta aos programas de pós-graduação, tendo os parâmetros quantitativos para se avaliar a produtividade do professor e das escolas. Além disso, o mestrado profissional seria a “inovação” formativa no qual poderá se qualificar um maior número de professores em menos tempo, com o auxílio das tecnologias de informação e comunicação, ou seja, pela expansão do Ensino à Distância.
Além da proposta de formação rápida e que não implica em distanciar os professores das salas de aula, prevê-se atrelar mais programas a instituições já consagradas (mas que já andam muito defasadas e desestruturadas) sem que sejam previstos novos investimentos para esses programas. Mas pergunta-se: como fica o financiamento para essa expansão da pós-graduação em educação? De onde virão os recursos para pagar as novas tecnologias e bolsas para os professores se aprimorarem?
Com o advento das novas modalidades de formação, afirma-se que o mestrado acadêmico não terá mais espaço nas instituições públicas. Mas a pressão pela diminuição do tempo de conclusão, a oferta cada vez mais escassa de disciplinas gerais para uma formação básica, a insuficiência no número de bolsas e vagas nos programas já tem a algum tempo boicotado o mestrado, tornando-o uma missão quase impossível para os pós-graduandos.  Exige-se ainda que se produzam dissertações que respondam às “demandas” das áreas ou linhas de pesquisa determinadas, sem dar condições de apropriação dos conhecimentos teóricos e práticos para o desenvolvimento de bons trabalhos. Mesmo assim, pergunta-se: a melhor opção é mesmo substituir o mestrado acadêmico pelo mestrado profissional? Será que esses problemas já existentes não se transferirão também para esse tipo de formação?
Afinal, o tempo de conclusão continuará cada vez menor, as exigências de produtividade não diminuirão e a precariedade das condições de trabalho e estudos se agravarão, promovendo esvaziamento ainda maior da formação na educação. Sabe-se, ainda, que boa parte dos pós-graduandos dos cursos de licenciatura no Brasil tem tido um destino: trabalhar como professor em instituições públicas de ensino superior e de ensino técnico. Vários professores jovens têm sido absorvidos pelos concursos em instituições federais e estaduais para comporem seus quadros de docentes. No entanto, tem-se visto há meses a greve dos professores das universidades federais reivindicando melhores condições de trabalho e plano de carreiras sem qualquer resposta do governo para suas denúncias e reivindicações. O que para muitos, significava finalmente uma oportunidade de retorno dos anos de estudo e garantia de estabilidade para construir uma carreira acadêmica, tornou-se um pesadelo diante das precárias condições dos campi do interior do país, assumindo funções administrativas além das acadêmicas tornando-os “burocratas do ensino superior”, enfrentando desafios didáticos por assumir disciplinas para cursos diversos e tendo que responder às exigências de produção e produtividade para poderem garantir subsídios para suas pesquisas e obter a titulação necessária para ascender na carreira.

Diante disso, pensando-se na função social do pós graduando como responsável por contribuir com a produção e reprodução de conhecimento, quais são as possibilidades para aqueles que se formam para atuar na educação?
Quem é o pós-graduando hoje? Que tipo de formação ele busca?
O que esperar das universidades prestadoras de serviço que continuam a oferecer pós-graduação como sinônimo de privilégio?
E principalmente, qual seria a formação necessária para que o pós-graduando pudesse contribuir para transformar, de fato, a realidade da educação brasileira?

Essas serão algumas das questões que se pretende debater nesse VIII Seminário, com o intuito de respondê-las a ponto de balizar a construção de novas saídas para os problemas da formação do pós-graduando em educação no Brasil.